Neville D’Almeida terá homenagem

7 de maio de 2021 às 0h15

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#DC Mais | Imagem: Pexels / Arte: Will Araújo

“Jardim de Guerra” foi o filme mais censurado do cinema brasileiro, com 48 cortes, segundo o portal Memórias da Ditadura. A obra é de Neville D’Almeida, que completa 80 anos neste mês. A “Faixa de Cinema”, da Rede Minas, celebra a data e faz uma homenagem ao cineasta mineiro exibindo o título, sem cortes, que participou da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes (1969), mas nunca foi lançado comercialmente no Brasil.

O filme traz a história de Edson, que se envolve amorosamente com uma jovem cineasta. Através dela, passa a frequentar os círculos sociais da esquerda que fervilham de ideais revolucionários. Na intenção de conseguir dinheiro para financiar um filme de sua namorada, se envolve em uma negociação que acaba gerando consequências inesperadas.

O filme “Jardim de Guerra” vai ao hoje, às 23 horas, na Faixa de Cinema, pela Rede Minas. O público também pode conferir a atração, nesse mesmo horário, no site da emissora: redeminas.tv.

Ousadia e liberdade definem o cineasta mineiro Neville D’Almeida. Quando Neville Duarte de Almeida, filho de Afonso Almeida e Laura Alves Duarte, nasceu em Belo Horizonte, em 15 de maio de 1941, o mundo atravessava a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). À época, o cinema não deixava de crescer no campo das artes. Ao longo da década de 1940, enquanto Neville passava da infância à adolescência, a indústria cinematográfica norte-americana investia em filmes de apelo patriota e comédias musicais. Na Itália, o neorrealismo despontava como movimento cinematográfico e, no Brasil, as chanchadas ganhavam destaques como gênero de filme tipicamente nacional.

Carreira – Em uma conversa com a equipe da “Faixa de Cinema”, da Rede Minas, Neville lembrou a carreira e a produção da obra. O cineasta, libertário, autoral, inconfundível, controverso, censurado e polêmico, orgulha-se de ter nascido em Belo Horizonte, e agradece a Deus por ter frequentado, no início de sua trajetória, o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), ter sido um dos fundadores do Centro Mineiro de Cinema Experimental (Cemice) e ainda estudado no Teatro Universitário de Minas Gerais (TU), na época dirigido pela atriz Haydée Bittencourt. São lembranças de um tempo efervescente no Cine Clube, onde teve a oportunidade de ver filmes do mundo inteiro, o que lhe garantiu uma visão universal do cinema. Foi assim que se tornou um cinéfilo.

Em meados de 1960, partiu para os Estados Unidos com o objetivo de estudar cinema no New York College. A experiência, contudo, não tão exitosa, o fez ver o curso como limitado ao cinema estadunidense e com pouca abrangência do cinema mundial. Mas ali sentiu os ventos das pautas progressistas que circulavam em voga nos Estados Unidos, como os movimentos black power e feminista. Nessa época, conheceu o escritor e músico Jorge Mautner, com quem mais tarde assinaria o argumento e o roteiro de seu primeiro longa-metragem, “Jardim de Guerra”.

Sobre o filme, Neville afirma que realizou uma obra profética. Segundo ele, conseguiu antecipar em 50 anos o movimento feminista e o movimento contra o preconceito racial no Brasil. Neville cita os atores e atrizes do filme, como Nelson Pereira dos Santos, Hugo Carvana, Glauce Rocha, Dina Sfat, Antônio Pitanga, Emanuel Cavalcanti, Joel Barcelos e Maria do Rosário Nascimento Silva, e declara que “Jardim de Guerra” é uma coleção sobre a cultura brasileira.

A obra acabou sendo proibida, interditada pela censura, logo após a promulgação do Ato Institucional nº 5, de 1968, do regime militar. A obra rendeu o prêmio de “Melhor Ator” para Joel Barcellos, no Festival de Brasília (1968), e foi inaugurada na Quinzena dos Realizadores, do Festival de Cannes (1969). No Brasil, jamais foi lançada comercialmente.

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