Sororidade é fundamental para as mulheres no mundo do trabalho

O dia 8 de março se tornou um símbolo da luta das mulheres contra as desigualdades e discriminação de gênero

8 de março de 2024 às 5h01

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Dados do Sebrae mostram que as mulheres abrem negócios na mesma proporção que os homens e, normalmente, são mais escolarizadas | Crédito: Adobe Stock

Comemorado desde a década de 1960, mas oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) apenas em 1975 – quando a organização declarou o Ano Internacional das Mulheres -, o 8 de março se tornou um símbolo da luta das mulheres contra as desigualdades e discriminação de gênero, inclusive no mundo trabalho.

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Dados do Sebrae mostram que as mulheres abrem negócios na mesma proporção que os homens e, normalmente, são mais escolarizadas. Porém, quando se trata de incentivos no núcleo familiar, 68% dos homens afirmam receber apoio de companheiros contra 61% das mulheres. Quando o assunto é preconceito de gênero, cerca de 25% das empreendedoras já sofreram preconceito em seus negócios por serem mulheres. Além disso, 42% já presenciaram outra mulher passando pelo mesmo problema.

A falta de apoio, o acúmulo de funções e a falta de tempo têm levado as mulheres a se juntarem e formarem grupos de ajuda às mulheres empreendedoras. Uma dessas iniciativas em Belo Horizonte é o Benditas. Criado há um ano, o grupo surgiu da vontade da empresária Deborah Ribeiro tornar a jornada dessas mulheres algo menos penoso.

“Sou empreendedora há 14 anos e, como jornalista, não fui formada para empreender. O sucesso da minha agência foi saber vender. Aprendi isso com a minha mãe, que vendeu diferentes produtos ao longo da vida. Eu fazia uma carreira comum em veículos de comunicação, mas quando fui levar minha primeira filha para a escola, a ‘dona de lá’ falou que queria ter um jornalzinho. Ela foi a minha primeira cliente. Com o tempo ela começou a me indicar. Mas eu não estava preparada, fazia de tudo, não sabia delegar. Foram muitas cabeçadas e hoje acho que posso contribuir para que outras mulheres tenham uma jornada menos difícil”, relembra Deborah Ribeiro.

Hoje a Bendita Letra – Comunicação Inteligente tem 16 colaboradores e a fundadora se dedica à estratégia do negócio.

Atualmente, o Benditas conta com cerca de 200 participantes que se dividem em dois grupos, um na Capital e outro em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Sem cobrar mensalidade, ele se financia por meio dos ingressos vendidos para eventos presenciais e patrocinadores que contribuem, principalmente, com infraestrutura.

A única contrapartida cobrada das participantes é frequentar pelo menos um evento presencial a cada três meses.

“Para cada evento convidamos uma palestrante para falar de uma área de gestão da empresa. Depois da palestra, temos uma rodada de negócios e, por fim, happy hour com exposição de produtos”, destaca a fundadora do Benditas.

Tragédia muda rumos do trabalho das mulheres em Mariana

O ano de 2015 está para sempre marcado na história de Minas Gerais e, especialmente, da cidade de Mariana, na região Central. O rompimento da Barragem de Fundão, de responsabilidade das mineradoras Samarco e BHP, é considerado o maior crime ambiental da história do Brasil e mudou radicalmente a vida de milhares de pessoas entre as montanhas mineiras e o litoral capixaba. 

Foi nesse contexto que ganhou força o projeto “Rede Marianas, Mulheres Que Inspiram”, criado em 2014. O coletivo atua como instrumento de empreendedorismo, pertencimento e fomento da economia local após a tragédia. 

Em 2023, a fundadora do grupo e hoje presidente da Central Única das Favelas em Minas Gerais (Cufa Minas), Marciele Delduque, foi uma das premiadas no “Mulheres Brasileiras que Fazem a Diferença”. A honraria é concedida pela Embaixada e Consulado dos Estados Unidos no Brasil. 

“O grupo começou como uma roda de conversa e se tornou um movimento de empoderamento de empreendedoras. Ser reconhecida mostra que meu propósito de ter voz e amplificar a potência feminina de outras está sendo cumprida. Eu só agradeço às quase 2 mil empreendedoras da Rede Marianas que tornam essa missão realidade”, pontua Marciele Delduque.

A empreendedora social é responsável pela coluna “Empreender é Ressignificar”, que é publicada quinzenalmente no DIÁRIO DO COMÉRCIO, sobre empreendedorismo periférico com foco especial nas mulheres.

Para conciliar trabalho e família, franquia é opção comum para mulheres que querem empreender

Ainda segundo o Sebrae, o Brasil testemunhou um aumento significativo no percentual de empreendedoras em relação ao total de negócios, atingindo 34% em 2022. Isso significa mais de 10 milhões de mulheres que agora desbravam seus próprios caminhos empresariais.

Oferecendo um modelo de negócio já testado e uma marca já conhecida pelo mercado, o franchising é uma opção escolhida por muitas mulheres, especialmente as empreendedoras de “primeira viagem”.

Laura Teodoro e Eliza Dornas | Crédito: Divulgação/CNA

As irmãs Laura de Carvalho Teodoro e Eliza Batista de Carvalho Dornas fizeram carreira como professoras de inglês, mas insatisfeitas com a pouca valorização dada aos profissionais da área, viram no empreendedorismo uma forma de atuar sobre o sistema sem ter que prescindir da sua área de formação.

A opção foi partir para uma franquia, já que nenhuma das duas tinha experiência. Hoje, as irmãs comandam uma unidade da CNA – Escola de Idiomas, no bairro Copacabana, região da Pampulha em Belo Horizonte.

“Antes da CNA, estávamos em outra rede que foi vendida e mudou de posicionamento. Isso fez com que não mais nos identificássemos e resolvemos procurar outra possibilidade. Encontrar a CNA foi abrir as portas para um modelo que coincide com os nossos propósitos. Abrimos a unidade em janeiro de 2020 e logo veio a pandemia. Conseguimos vencer esse período com os alunos que vieram da outra escola e o apoio que o próprio modelo de franquias dá, com um marketing estruturado e a força da marca”, explica Laura Teodoro.

Ainda que o ambiente escolar seja bastante feminino, as irmãs não deixaram de viver os obstáculos impostos às mulheres empreendedoras. Episódios de machismo e misoginia seguem no cotidiano das mulheres que comandam seus negócios e das suas equipes.

“Já passamos por situações que não aconteceriam com homens na mesma posição. Um exemplo é no caso das cobranças. Muitas vezes somos atendidas com falta de educação ou violência mesmo ao fazer uma cobrança. E é incrível como a simples presença de um homem muda a situação. No início, pedíamos ao nosso pai para ligar para a pessoa. Ele dizia que era do departamento jurídico e tudo se resolvia”, exemplifica a franqueada.

Empreendedora desde a adolescência, a franqueada da Acolher e Cuidar, em Belo Horizonte, Amanda Barreto Fagundes, cursou enfermagem e trabalhou nos sistemas públicos de saúde municipal e estadual. Mas o sonho de empreender teve sequência e ela conseguiu se manter na área da saúde se tornando uma franqueada, prestando serviços domiciliares em saúde através do atendimento de cuidador de idosos.

“O que me chamou atenção na Acolher e Cuidar foi a possibilidade de crescimento e expansão do negócio e a oportunidade do momento em não haver franqueados do grupo em Belo Horizonte”, diz a franqueada que aderiu ao modelo de negócio em outubro de 2022.

Para isso, investiu na época cerca de R$ 180 mil no modelo Premium, que inclui: locação de equipamentos hospitalar; serviços de procedimento pontual; serviços de enfermagem (tratamento de feridas, soroterapia, antibioticoterapia, entre outros, cujo objetivo é evitar internação hospitalar); Programa Ame Acolher e Cuidar e serviços de cuidador de idosos para períodos de seis horas, 12 horas ou 24 horas. 

“O mercado de saúde atual mostra-se frágil e em crescimento, com a necessidade de novos empreendimentos para atender a demanda de toda a população. O mercado de trabalho em minha cidade apresenta oportunidades para as mulheres, porém encontramos poucas profissionais com a qualificação necessária”, analisa a empreendedora.

Capacitação protege direitos das mulheres

O curso “Defensoras Populares”, promovido pela Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), por meio da sua Escola Superior (Esdep) e de sua Coordenadoria Estadual de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (CEDEM), está com as inscrições abertas até o dia 2 de abril.

A iniciativa, que acontece pela segunda vez em Belo Horizonte, é direcionada às mulheres lideranças comunitárias que serão multiplicadoras de seus direitos, orientando e auxiliando outras mulheres que estiverem sofrendo algum tipo de violência de gênero em seus territórios, seja no lar, no trabalho ou na rua.

Samantha Alves | Crédito: Divulgação/Defensoria Pública de Minas Gerais

Segundo a coordenadora estadual de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres, defensora pública Samantha Vilarinho Mello Alves, qualquer mulher que seja reconhecida como uma liderança comunitária está apta a participar do curso, independentemente do seu grau de escolaridade. Para receber o certificado, elas precisam cumprir 75% da carga horária, seja no formato presencial ou on-line.

“São mulheres, cis ou trans, que sejam lideranças comunitárias. Elas vão receber um conteúdo jurídico em direitos humanos. Utilizamos a metodologia freiriana, construindo o conhecimento com as educandas. Embora não crie vínculo empregatício, o curso, de alguma forma, é também um reconhecimento ao trabalho dessas mulheres que só têm coragem e intuição como ferramenta. Destacamos a importância do trabalho delas para que a justiça chegue aos espaços mais vulneráveis”, completa Samantha Alves.

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