Banco Central acompanha impacto dos salários na inflação de serviços

Diogo Guillen disse que o foco do BC nestes dados vem em meio a debates sobre quais são as causas de mudanças recentes em alguns indicadores-chave

23 de fevereiro de 2024 às 21h35

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Guillen afirma que as negociações salariais devem ser observadas “com bastante cuidado” | Crédito: Raphael Ribeiro/BC

São Paulo – O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, disse nesta sexta-feira (23) que a autarquia está focando dados de salários em meio a incertezas sobre indicadores mais amplos do mercado de trabalho, de olho no impacto que eles têm na inflação de serviços.

“Você começa a ver uma concentração nas negociações salariais próximas de 5%… A gente não acha que isso significa pressão no mercado de trabalho, mas a gente tem que olhar com bastante cuidado”, disse o diretor em evento organizado pela Abrasca.

Ele disse que o foco do BC em dados de salários vem em meio a debates ainda em andamento sobre quais são as causas de mudanças recentes em alguns indicadores-chave do mercado de trabalho, como a taxa de desocupação, que se acomodou em níveis muito mais baixos.

“O mercado de trabalho bate na inflação de serviços, a inflação de serviços ajuda a entender a inflação, que é o objetivo principal do Banco Central: atingir a inflação na meta”, completou Guillen.

Seus comentários vieram depois que dados de janeiro do IPCA surpreenderam para cima, embora tenham desacelerado frente a dezembro, com preocupação do mercado financeiro com o nível elevado da inflação de serviços excluindo as passagens aéreas, item mais volátil.

Para além da questão da inflação corrente, Guillen chamou a atenção para expectativas de altas de preços ainda desancoradas em relação ao centro da meta, com o mais recente boletim Focus mostrando projeção de inflação de 3,51% em 2025 e 3,5% para os dois anos seguintes.

“Eu tenho tido mais uma concentração sobre esse 3,5%, que são expectativas desencoradas. A meta é 3%. Então a gente vai continuar, é claro, sempre perseguindo a inflação de 3%, que é o mandato do Banco Central”, afirmou ele. O objetivo de inflação de 3% do BC para 2024, 2025 e 2026 tem margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Em relação à atividade econômica, Guillen disse que dados recentes indicaram uma atividade “mais forte” na virada de 2023 para este ano, e que o BC está no aguardo dos dados oficiais do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre e também do trimestre atual. O IBGE divulgará em 1° de março os dados do PIB do quarto trimestre e de 2023 como um todo.

Segundo o diretor, o crescimento do país ao longo de 2023 foi “uma história de, primeiro, agro (mais forte do que o esperado), depois um consumo resiliente, e, depois, um arrefecimento da atividade bem gradual no segundo semestre”.

Guillen afirmou ainda que as surpresas para cima na atividade no ano passado podem ser explicadas por fatores estruturais, como reformas promovidas nos últimos anos, mas que é “muito difícil” quantificar esse impacto no crescimento. Segundo ele, há também a possibilidade de que o comportamento do PIB no ano passado se deva a fatores cíclicos, como renda e crédito –o que teria impactos diferentes na política monetária, devido aos riscos de inflação.

Sobre a política monetária, Guillen disse que já é possível ver o efeito da redução da taxa básica de juros sobre as taxas de crédito, citando maior apetite na oferta de concessões. O BC já cortou a Selic cinco vezes desde agosto do ano passado, deixando os juros no patamar atual de 11,25%.

O diretor também voltou a dizer que não há relação mecânica entre as políticas monetárias do Federal Reserve e do BC, fala que vem num momento de maior cautela sobre o início do afrouxamento dos juros nos Estados Unidos.

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