Minas Gerais desenvolve novos hubs de inovação no interior

Vanguarda é nova página exclusiva do DIÁRIO DO COMERCIO que vai tratar sobre tecnologia, startups, técnicas, tendências, desenvolvimento e pesquisa (P&D) e tudo o que o presente for capaz de vislumbrar no futuro

27 de março de 2024 às 17h50

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Crédito AdobeStock

A velocidade das transformações sociais e tecnológicas, especialmente impulsionadas pela pandemia de Covid-19 entre 2020 e 2022, referendam a ideia de que o futuro já começou. Em Minas Gerais, a inovação transforma setores tradicionais e cria novas oportunidades.

No DIÁRIO DO COMÉRCIO falar de tecnologia e inovação faz parte do cotidiano há tempos e agora – hoje! – , ganha um espaço especial para chamar de seu: Vanguarda! Nessa página exclusiva, tecnologia, startups, técnicas, tendências, desenvolvimento e pesquisa (P&D) e tudo o que o presente for capaz de vislumbrar no futuro – que é quase agora – estarão aqui.

Para começar vamos conhecer os ecossistemas de inovação de Minas Gerais. Nessa matéria especial alguns dos hubs mineiros já consolidados e outros emergentes em territórios, muitas vezes, insuspeitos.

Aos poucos, os chamados “atores” do cenário de inovação – startups, universidades, grandes empresas, aceleradoras, incubadoras e poder público, entre outros – se unem e descobrem como as oportunidades e potências do Estado podem ser aceleradas e expandidas por meio de um sistema colaborativo e organizado.

Minas Gerais desenvolve novos hubs de inovação no interior

Os chamados ecossistemas ou hubs de inovação são comunidades complexas, que reúnem diversos atores da cadeia produtiva da inovação como universidades, startups, poder público, empresas de diferentes portes, agências de fomento e aceleração. Em Minas Gerais – em que pese uma economia ainda bastante dependente da produção de commodities – esses espaços de desenvolvimento de novas tecnologias e inovação vêm crescendo. Cidades como Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH); Juiz de Fora, na Zona da Mata; Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas; além da própria Capital, já alcançaram reconhecimento nacional e são capazes de gerar interações e negócios até fora do Brasil.

Outras cidades, algumas insuspeitas para a maioria do público, despontam no cenário de inovação mineiro. Próximas de centros de formação de mão de obra em tecnologia, com políticas públicas minimamente estruturadas e com foco na diversificação da economia e com alguma organização dos empreendedores, elas têm facilitado a criação de novas empresas de base tecnológica. Com isso, aumenta a geração de empregos mais qualificados e, assim, a fixação de uma mão de obra de excelência nos territórios, mirando um futuro menos dependente dos humores do mercado externo de commodities.

Minas Gerais ocupa o segundo lugar, empatado com Santa Catarina, no ranking das startups brasileiras, com 9% do total. Apenas São Paulo aparece à frente, com 49%. De acordo com recorte exclusivo do estudo “Ecossistema 2023”, feito pela Liga Ventures com exclusividade para o DIÁRIO DO COMÉRCIO, as cidades com maior destaque pelo número total de startups são: Belo Horizonte, com 57,8%; Uberlândia (Triângulo Mineiro), 17,5%; Itajubá (Sul de Minas) e Nova Lima, 6%; Juiz de Fora, 5,5%.

Entre os segmentos no Estado, destacam-se: agtechs (agricultura), 21,9%; fintechs (finanças), 18,4%; healthtechs (saúde), 12,9%; martechs (marketing),12,6%; retailtechs (varejo), 10,4%; foodtechs (alimentação) e edtechs (educação), 9,9%; construtechs (construção civil), 9,6%; HRTechs (gestão de pessoas), 8,8%; e logtechs (logística), 8,2%.

Já no Brasil, as verticais com mais startups ativas, em ordem decrescente, são: fintechs, agtechs, healthtechs, foodtechs e retailtechs.

Para o cofundador da Liga Ventures, Guilherme Massa, o tamanho e a distribuição da economia mineira pelo território são fatores importantes para entender o movimento dos ecossistemas de inovação pelo Estado. Entretanto, a macroeconomia sozinha não é capaz de determinar o sucesso de um hub de inovação emergente.

“É compreensível o destaque de Belo Horizonte, que é a Capital e que conta com o pioneirismo do San Pedro Valley, um dos primeiros ecossistemas organizados do Brasil. Outras cidades com grandes universidades que oferecem graduações ligadas à tecnologia também saem na frente, como Juiz de Fora, Uberlândia e Itajubá, por exemplo. Do ponto de vista das verticais, é bastante interessante ver como as startups já conseguiram se integrar a um dos setores mais importantes da economia mineira, que é a agricultura. O mesmo, porém, ainda não aconteceu com a mineração”, explica Massa.

Além da mineração, o especialista vê grandes oportunidades para startups que propõem inovação, produtos e serviços para os setores de energia e logística. Levar aplicabilidade para as grandes empresas desses setores, para ele, é a chave para a alavancagem de negócios disruptivos.

Muitas dessas grandes companhias têm programas próprios de inovação aberta e lançam desafios para startups e outros tipos de fornecedores.

“A transição energética está trazendo para o Estado uma série de oportunidades ligadas à mineração de minerais críticos e à cadeia de beneficiamento; à produção de energia fotovoltaica e à própria geração de energia hidrelétrica e à mineração tradicional. Todos esses setores precisam de inovação e as empresas de base tecnológica de Minas Gerais podem desenvolver soluções e, assim, fortalecer os hubs locais. O mesmo se dá em relação à logística. Minas é o grande entroncamento entre o Sul-Sudeste e o Norte-Nordeste do País e a ligação entre o Centro-Oeste e os portos do Sudeste, e já abriga os maiores players de transporte e logística do Brasil. É natural que as logtechs cresçam aqui”, pontua.

Ecossistema de Lavras impulsiona GaussFleet

Mas para que tudo isso seja possível, além de financiamento, atração de empreendedores e de talentos, é fundamental o diagnóstico de uma vocação. Nesse sentido, Lavras, no Sul de Minas, vem se destacando. Em uma posição geográfica privilegiada tanto para a agricultura como para a logística e casa da reconhecida Universidade Federal de Lavras (Ufla), a cidade desenvolve o seu hub de inovação há bastante tempo e atrai empresas de diferentes lugares do Brasil.

Um exemplo é a GaussFleet, plataforma SaaS de gestão de máquinas móveis para construtoras, operadores logísticos e siderúrgicas. Com sede em Barueri (SP), a startup mantém há pouco mais de um ano um escritório na cidade mineira. Nesse período, aumentou em 130% o número de funcionários e estagiários.

Segundo o CCO GaussFleet, Vinicius Callegari, a unidade de Lavras é responsável pelo desenvolvimento das soluções da companhia e o ambiente de negócios oferecido pela cidade tem um papel fundamental no posicionamento e crescimento da empresa.

“A disponibilidade de mão de obra potencialmente competente é essencial. Em São Paulo é mais caro e com menos qualidade. O nosso time de desenvolvedores começou com estagiários. Lavras tem uma boa infraestrutura e é importante ter esses atores trabalhando em soluções para o desenvolvimento do setor”, destaca Callegari.

As soluções da GaussFleet são baseadas em tecnologias como geoprocessamento, telemetria avançada e internet das coisas (IoT) na gestão de máquinas pesadas dentro de minas, obras e usinas. A empresa cresceu 84% entre 2022 e 2023. A meta para este ano é manter o índice. Embora a internacionalização já apareça em um futuro de médio prazo, a ordem agora é se consolidar no mercado brasileiro.

“Trabalhamos com mercado em que os contratos demoram para ser fechados. Foi difícil conquistar os primeiros clientes, mas a partir disso, passamos a ter um faturamento recorrente. O contrato é por máquina monitorada e isso gerou outros contratos. Começamos a crescer dentro dos próprios clientes. Geramos resultados efetivos no ambiental, social e compliance. Na parte ambiental, diminuímos a emissão de carbono reduzindo o número de máquinas; aumentamos a segurança monitorando a velocidade e a fadiga dos motoristas; e na governança, damos a certeza de quanto pagar ao fornecedor de máquinas. Em 2024, vamos consolidar o mercado de operadores logísticos como o de siderurgia e continuar crescendo nas construtoras”, afirma o CCO da GaussFleet.

Sebrae articula hubs de inovação em Minas Gerais

Nove territórios mineiros recebem apoio do programa Habitats. A iniciativa do Sebrae Minas, em parceria com a Rede Mineira de Inovação (RMI), apoia o desenvolvimento e aprimoramento dos mecanismos de inovação em Minas Gerais e o fortalecimento dos Ecossistemas Locais de Inovação (ELIs), com o surgimento e consolidação de empresas de base tecnológica.

De acordo com a analista do Sebrae Minas, Luísa Vidigal, para o surgimento e desenvolvimento de negócios inovadores nos territórios, é preciso criar ambientes propícios para que a inovação aconteça e gere conexão e sinergia entre esses ambientes.

Os territórios contemplados são: Montes Claros (Norte de Minas); Uberlândia e Uberaba (Triângulo Mineiro); Divinópolis (Centro-Oeste); Itajubá, Lavras e Viçosa (Zona da Mata); Alto Paraopeba (reunindo Ouro Branco, Congonhas e Conselheiro Lafaiete) e Itabira, na região Central.

“O programa incentiva a conexão por meio do compartilhamento de conhecimentos, estímulo a pesquisas e construção de parcerias. Para tanto, une pequenos empresários a parques tecnológicos, incubadoras, pré-incubadoras, aceleradoras, espaços makers e labs, hubs de inovação e coworkings, em um ambiente de aprendizagem coletiva. O objetivo é gerar valor sempre a partir de negócios de base tecnológica. Para isso, contamos com os agentes locais de inovação, que são os responsáveis por fazer essa articulação, identificar vocações e demandas”, explica Luiza Vidigal.

Cidade-polo da região Centro-Oeste, Divinópolis é conhecida nacionalmente pela indústria de vestuário. O fomento às empresas de base tecnológica é recente, mas já tem os seus expoentes. A Checkbits, que oferece uma solução para otimizar o processo de inspeções, auditorias, vistorias e padrões operacionais na rotina das empresas, é uma delas.

Para o CEO da Checkbits, Leandro Rodrigues, o momento agora é de fazer a startup crescer e a missão fica menos difícil estando dentro de um ecossistema de inovação.

“Todos os fundadores foram formados em instituições públicas da região e nos sentimos acolhidos aqui. Existe um capital intelectual muito grande na cidade. Já temos parceiros, muita conexão. Participamos ativamente no ecossistema. Lutando para crescer, sempre conectados com outros ecossistemas como Belo Horizonte e Vitória (ES). Ainda estamos definindo a missão do ecossistema de Divinópolis e precisamos ser mais integrados para fazer os negócios acontecerem. Já tem um programa de pré-aceleração da prefeitura pelo qual já passaram mais de 30 empresas”, afirma Rodrigues.

Ecossistema de Itajubá ganha prêmio

O ecossistema de Itajubá é apontado como um dos destaques, tendo sido laureado, em 2023, com o Prêmio Nacional de Melhor Ecossistema de Médio Porte. O prêmio é uma iniciativa da Mobilização Empresarial para a Inovação (MEI), com realização da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 

Segundo o analista técnico do Sebrae em Itajubá, Paulo Sarto Neto, a formação do ecossistema de inovação da cidade já acontece há mais 20 anos e tem na Associação Itajubense de Inovação e Empreendedorismo (Inovai) e na presença de grandes empresas como a Helibras (a partir de 1980), pilares importantes.

hub de inovação da Helibras
Crédito Divulgação Helibras

“O hub de Itajubá tem um nível de maturidade bastante elevado porque tem um plano de ação bem estabelecido e uma governança que monitora as atividades. Temos uma agenda de reuniões com os atores. Isso criou um senso de pertencimento que é fundamental para o ecossistema existir. Assim, equilibramos os níveis de competição e colaboração, gerando um ambiente saudável capaz de contribuir para o crescimento de todos”, pontua Sarto Neto.

A cultura do compartilhamento e da retribuição já faz com que o ecossistema de Itajubá projete a criação de um ecossistema regional, reunindo comunidades de inovação com interesses comuns de cidades próximas. No fim do mês, será realizado o primeiro Encontro de Ecossistemas de Inovação do Sul de Minas na vizinha São Lourenço.

“Existe uma reciprocidade entre os atores dos ecossistemas de inovação de Minas Gerais. O papel do poder público é fomentar e facilitar o desenvolvimento desses atores e a troca entre eles. E o Sebrae entra com a articulação nos territórios onde atua”, avalia o analista técnico do Sebrae em Itajubá.

União de forças transforma região do Alto Paraopeba

Já o Elis do Alto Paraopeba é uma comunidade muito mais recente, criada em 2020. Para o analista técnico do Sebrae na microrregião do Alto Paraopeba e Inconfidentes, Luís Paulo Nascimento, reunir três cidades vizinhas – Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco – foi a saída para acelerar um processo que enfrentava bastante dificuldades. 

“Essa é uma região muito dependente da mineração e precisamos desenvolver outras competências. O projeto do Sebrae caiu como uma luva. Pudemos conectar academia, poder público, sociedade civil organizada e iniciativa privada. Fizemos um diagnóstico das competências e vocações. Foi quase um ano de preparação de um planejamento estratégico. Em 202, começamos a entender um pouco melhor como alavancar. Criamos uma governança com quem participava efetivamente. Os três municípios enxergam a inovação e o empreendedorismo como um vetor de crescimento”, relembra Nascimento. 

Em Conselheiro Lafaiete há seis anos, a Second Mind é uma empresa de tecnologia que visa oferecer soluções que direcionam a inovação nos processos administrativos de seus clientes. Criada pelo casal Deyvison Gonçalves e Natália Poliana Vieira, eles estudaram juntos na Universidade Federal de Viçosa (UFV). 

“Lafaiete é estratégica geograficamente porque é perto de Belo Horizonte, de Juiz de Fora e do Rio de Janeiro. Tem uma boa infraestrutura e forte em serviços e mineração. Somos um dos pioneiros na região. Não foi fácil. O apoio veio em um segundo momento. Abrimos a empresa com R$ 5 mil, um notebook e muita vontade. Em 2019, surgiu o Inovap (Ecossistema de Inovação do Alto Paraopeba). Entendemos que não depende só das prefeituras e das instituições de ensino. Se os empresários não participarem, o ecossistema não vai pra frente. O objetivo é ter novas Seconds Minds. Todo ecossistema vinculado à quebra de paradigmas. A gente faz por acreditar no futuro da cidade”, avalia Gonçalves.

Um dos pontos-chave é a qualidade da mão de obra disponível e a capacidade da empresa reter esses talentos. 

“Quando começamos, não havia mão de obra disponível. As pessoas que se formavam, iam embora. Investimos em treinamento e formamos pessoas com a cultura da empresa. Damos oportunidade para que elas cresçam aqui dentro. Alguns saíram para outras empresas e outros mercados, mas isso não é um problema. Nós precisamos criar um mercado forte e competitivo para que as empresas cresçam”, completa Natália Vieira.

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