Plano Diretor da Capital espanta construção, alerta Rodrigo Paiva

3 de outubro de 2020 às 0h20

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Rodrigo Paiva defende uma reforma administrativa, com redução das secretarias | Crédito: Arquivo DC

Rodrigo Paiva é formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em tecnologia. Voluntário na Sociedade Mineira de Engenharia (SME), foi CEO da Paiva Piovesan Software por 28 anos e é ex-presidente da Mit Club do Brasil.

É defensor da liberdade econômica e do empreendedorismo e, em 2018, foi candidato ao Senado Federal pelo partido Novo em Minas Gerais.

Rodrigo Paiva fez parte da Comissão de Transição do atual governo do Estado e foi diretor-presidente da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge), tendo se licenciado da função para concorrer ao cargo máximo do Executivo de Belo Horizonte.

Como reaquecer a economia da cidade no cenário pós-pandemia?

Será um grande desafio. Alguns dados mostram que Belo Horizonte tem andado para trás, uma cidade que está perdendo empresas e renda. Um indicador bastante relevante é o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que mostra quanto cada cidadão produz na cidade. Em 2010, o PIB per capita de Belo Horizonte era de US$ 15 mil e vai chegar ao fim de 2020 em apenas US$ 6,5 mil, ou seja, uma perda superior a 50%. A Coreia do Sul tem PIB de US$ 33 mil, os Estados Unidos, que é o país mais rico do mundo, tem um PIB per capita de US$ 66 mil, o que mostra que é preciso dez belo-horizontinos para produzir o que um norte-americano produz. Isso é uma vergonha, um absurdo. Belo Horizonte está na contramão do mundo. O Brasil tem estado, nos últimos anos, na contramão do mundo. Mas chega, basta! Nós que somos pessoas de bem, nos omitimos durante muito tempo de não participar da vida política. Mas isso acabou e temos que ter espaço. Por isso, me ofereci para participar das eleições municipais. Quero servir à população de Belo Horizonte e contribuir para o avanço da cidade.

São inúmeros os gargalos na infraestrutura da capital mineira. Como pretende saná-los?

Nossa infraestrutura está defasada e ficou sem grandes investimentos nos últimos anos. Belo Horizonte é uma cidade que precisa evoluir, principalmente na questão de mobilidade. Brasília fez metrô, Salvador fez metrô e o nosso está parado há 40 anos. Agora o governo do Estado se movimentou e viabilizou os recursos da FCA para a construção da linha 2 do metrô. O ministro anunciou, o próprio presidente confirmou, e estamos certos de que estes recursos virão para Belo Horizonte. Nós também precisamos resolver a questão do Anel Rodoviário, que é de responsabilidade do Dnit. Precisamos nos movimentar, ir atrás do governo federal e viabilizar as obras, porque mortes se repetem ali todos os anos. Precisamos viabilizar a construção do Rodoanel e o governo do Estado está fazendo isso, através da indenização do acidente da Vale, em Brumadinho. Mas a prefeitura tem que colaborar e não tem feito isso. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) se negou a fazer o aumento de capital da Metrô Minas para viabilizar essa obra do metrô, um aporte de R$ 360 mil. Eu quero ser prefeito para transformar a vida das pessoas. Vou ficar quatro anos no cargo lutando para trazer recursos para a cidade.

Por falar em mobilidade urbana, como vê o novo Plano Diretor da Capital?

Totalmente equivocado. Visitei as obras fantasmas da linha 2 do metrô, que liga a estação Calafate ao Barreiro. Na vizinhança da estação Calafate só há residências. E, nos arredores de uma estação de metrô, você tem que permitir um adensamento para dar qualidade de vida aos moradores. É assim em São Paulo, Nova York, em Paris ou em qualquer grande cidade do mundo. Por isso o plano diretor de Belo Horizonte é equivocado. Belo Horizonte está espantando a indústria de construção civil, que é importantíssima para geração de emprego e renda, para cidades vizinhas. Assim que assumimos a prefeitura, vamos enviar um projeto para Câmara dos Vereadores para revisão do plano em vistas de permitir o adensamento e a qualidade de vida para a população.

Belo Horizonte é uma cidade basicamente composta por empresas de comércio e serviços. Como atrair outros investimentos privados?

Isso está no nosso plano de governo: incentivar a economia criativa, que é um termo novo para alguns serviços e indústrias que já existiam, como, por exemplo, na indústria da moda, que é muito forte em Minas Gerais. Nós temos o Minas Trend Preview, um evento de negócios para gerar venda e que faz muito sucesso. Mas a prefeitura, simplesmente, ignora esse evento. No meu mandato, o Executivo municipal vai participar destas agendas de fortalecimento da indústria criativa, que inclui ainda a gastronomia. No ano passado, por exemplo, recebemos um prêmio mundial de reconhecimento da gastronomia de Belo Horizonte. Nós queremos ainda incentivar a indústria de tecnologia da informação e a biomedicina. Nossas startups têm surgido, mas quando crescem e aparecem, vão para São Paulo ou para Santa Catarina. Queremos manter essas empresas em solo belo-horizontino. Como? Reduzindo impostos e fazendo uma estrutura eficiente. Para isso, vou propor, logo no início do mandato, uma reforma administrativa, com a redução do número de secretarias e reformulação de toda estrutura, inclusive de estatais da prefeitura. Toda economia que eu obtiver vai ser dada ao contribuinte, ao cidadão na forma de redução de impostos. Este é meu compromisso. 

Sobre a fuga das empresas para outras cidades da RMBH. Qual seria o caminho? Uma gestão compartilhada, uma parceria com os demais Executivos?

Belo Horizonte já foi a terceira maior cidade do Brasil, hoje é a sexta. Apesar de que a RMBH ainda é a terceira do País. Precisamos ter muito diálogo com os municípios vizinhos. Algumas obras como a do Rodoanel, que atende não apenas Belo Horizonte, mas toda a região metropolitana, precisam que lutemos em conjunto com essas prefeituras. Mas destaco ainda que temos alguns casos em que a fuga ocorre pelos gastos com o ISS de 5% em Belo Horizonte e na cidade vizinha de 2%. Precisamos equalizar essa tributação de tal forma que a empresa fique na Capital.

Como a política de desenvolvimento do seu programa leva em conta a questão fiscal? Como seria esta reforma administrativa?

Na verdade, a ideia é que a PBH se concentre nas atividades básicas, quais sejam educação, saúde, segurança e infraestrutura. Não queremos uma prefeitura inchada, não queremos cabide de empregos, e essa reforma administrativa vai permitir uma economia que vai ser repassada na forma de redução de impostos. Acreditamos que, agindo dessa forma, vamos ter a atração de mais investimentos e mais empresas vindas para o município. É nossa ideia também criar uma agência de desenvolvimento econômico para atração de investimentos. Acho, por exemplo, que, em Belo Horizonte, é possível que tenhamos uma fábrica de vacinas contra a Covid-19. O Rio de Janeiro está conquistando isso por meio de parceria com a Fiocruz, em Manguinhos. Existe uma unidade da Fiocruz, em Belo Horizonte, que é o Instituto René Rachou. Vamos tentar viabilizar para que isso aconteça na nossa cidade. Hoje, a indústria é responsável por apenas 12% da receita da prefeitura, e nós queremos ampliar isso por meio da indústria não poluente.

Quais as propostas para a gestão pública da cidade  e o tamanho da máquina?

Hoje a prefeitura tem 14 secretarias. Nós queremos reduzir isso para dez.  Para se ter uma ideia, um secretário municipal ganha na ordem de R$ 27 mil mais o encargo, totaliza R$ 54 mil. Com a redução de quatro, teríamos uma economia de R$ 2,4 milhões só em relação ao secretário. Queremos viabilizar essa economia na estrutura e na utilização de espaços públicos. Apesar de todos os imóveis que possui, a Prefeitura de Belo Horizonte ainda aluga outros. Não dá para entender isso. Falta transparência. Vamos trabalhar isso para visualizarmos onde serão reduzidas despesas e torná-la mais eficiente. Já quanto ao funcionalismo, vamos implementar uma política séria de avaliação de desempenho para validar se estão desempenhando as funções com conformidade.

Qual o papel de Belo Horizonte no desenvolvimento do Estado? Como fortalecer o papel de protagonismo da Capital na economia mineira?

A gente não vê o atual prefeito se deslocando e se reunindo com entidades ou outras organizações. Eu vou ser uma pessoa aguerrida, irei a quem for preciso para atrair recursos para nossa cidade. Vou tentar viabilizar para que grandes empresas voltem a ter suas sedes em Belo Horizonte. A cidade perdeu muito nos últimos anos por falta de protagonismo político. Eu, sendo eleito, vou com muita garra e muita vontade para fazer isso se tornar realidade.

Ao longo da última década, Belo Horizonte desenvolveu uma política para o fortalecimento da cadeia turística, buscando, inclusive, novas vocações além do Turismo de Negócios. Qual papel o turismo deverá ter e quais políticas públicas pensa em desenvolver?

A minha ideia é construir um marco em cada um dos pontos cardeais da cidade. Visitei alguns pontos extremos de Belo Horizonte e já tive algumas ideias: no ponto mais ao Sul, temos o Parque do Rola Moça, um lugar fantástico, com uma vista maravilhosa da cidade. Um local possível para fazer esportes, passeios ecológicos, focando no turismo ecológico; no ponto mais a Oeste, no bairro Lindeia, temos uma região com comércio pujante, onde um marco faria total diferença para visitação; no ponto mais ao Norte, fica próximo à Cidade Administrativa; o mais ao Leste, está na divisa com Sabará, onde poderíamos fazer um museu do ouro. A gente tem que ter projetos inovadores que, obviamente, serão ofertados à iniciativa privada.  Além disso, no conjunto arquitetônico da Pampulha, falta uma obra, um hotel projetado pelo próprio Niemeyer. Eu já liguei para Fundação Niemeyer e eles ficaram entusiasmados com a possibilidade de retomarmos o projeto. Pode ser que não seja um hotel, mas um centro de eventos, que é outra área que Belo Horizonte ainda carece de investimentos. Temos várias oportunidades. Não é papel da prefeitura executá-los, mas de viabilizá-los.

Impossível pensar no turismo de Belo Horizonte sem falar do Carnaval, que ganhou força nos últimos anos. Temos um grande desafio pela frente, em função da pandemia. Como lidar com a situação?

Primeiro eu gostaria de falar que eu adoro Carnaval, então serei um entusiasta da festa. Se for possível realizar na data prevista, eu topo. Se tivermos que ter alguns protocolos de segurança, vamos reforçá-los para que a festa seja realizada. É um evento importante, que atrai muitos recursos para a cidade e já se tornou viável. O papel da prefeitura ocorre no sentido de realização. E podem contar comigo. E se a questão sanitária não permitir, vamos tentar viabilizá-la em outro período, assim que for possível.

Se eleito, qual será sua principal inovação? Em que área?

Vou inovar como nunca em todas as áreas. Mas quero colocar a prefeitura de Belo Horizonte na palma da mão do cidadão. Como presidente da Prodemge reformulei o aplicativo do Estado e passamos de 170 mil usuários para mais de 1 milhão ao final da minha gestão. Colocamos diversos serviços para o cidadão no aplicativo e quero fazer o mesmo na Prefeitura de Belo Horizonte. Hoje muitas pessoas têm que se deslocar para resolver qualquer coisa. Quero que a pessoa resolva na palma da mão, não apenas com o agendamento, mas a solução total do problema. Na pandemia vimos que teleconsultas, teleaulas e teleconferência funcionam. Belo Horizonte está na 97ª posição como cidade amiga da internet. Isso é uma vergonha. Queremos Belo Horizonte como cidade número 1. Queremos tecnologia, que o 5G seja instalado aqui antes de outras capitais, ter a possibilidade de veículos autônomos na nossa capital.

Qual o lugar de Belo Horizonte no futuro?

Belo Horizonte vai ser uma cidade admirável. Vai atrair investimentos, as pessoas não vão querer mais sair daqui. Todos nós sabemos que o melhor programa social é o emprego e é nisso que a gente aposta. Uma BH digna. Esta será a BH do futuro.

 

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