Patrimônios Mundiais da Unesco atraem visitantes para Minas Gerais

Atualmente, existem 23 espalhados pelo Brasil, entre Culturais, Naturais e Misto; desse total, quatro estão no Estado

17 de abril de 2024 às 6h30

img
10% do fluxo turístico de Ouro Preto é internacional, com a maioria formada por europeus | Crédito: Acervo Setur-MG / Sérgio Mourão

Ser reconhecido internacionalmente por seu valor inestimável para a humanidade é uma deferência concedida a poucos lugares no mundo. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) identifica e cataloga esses atrativos a fim de protegê-los e preservá-los como patrimônio para as demais gerações.

Eles são divididos entre Patrimônio da Humanidade Cultural, Natural e Misto – este último quando um único lugar possui características singulares dos dois segmentos.

Os Patrimônios Mundiais, como também são chamados, podem ser prédios, monumentos, paisagens ou cidades inteiras. Atualmente, existem 23 desses lugares espalhados pelo Brasil, entre 15 Culturais, sete Naturais e um Misto. Desse total, quatro estão em Minas Gerais.

Essa distinção ajuda as cidades e o Estado a se tornarem objeto de desejo de turistas de todo o mundo e integra a estratégia de divulgação e promoção não só do destino em si, mas também de toda a região e circuitos dos quais essas cidades fazem parte.

Ouro Preto (região Central) foi a primeira cidade a receber o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco no País, em 1980. A cidade tem papel fundamental na história do Brasil. Foi capital do Estado até 1897 e teve seus tempos de glória no período da exploração do ouro, entre os séculos 18 e 19.

A riqueza que aflorava nos leitos de córregos e riachos fez com que a cidade já nascesse internacionalizada, atraindo aventureiros do mundo inteiro. Essa “vocação cosmopolita” rendeu um conjunto original de ruas de pedras, casarios e igrejas, que abrigam obras de artistas como o mestre do barroco Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 

Entre os principais pontos turísticos estão a praça Tiradentes, a igreja de São Francisco de Assis, os museus da Inconfidência, Aleijadinho e de Arte Sacra, Casa de Tomás Antônio Gonzaga, Casa dos Contos e a Casa dos Inconfidentes.

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Tecnologia de Ouro Preto, Felipe Vecchia, a chancela da Unesco faz com que a cidade se torne conhecida e atraia bons investimentos na área do turismo.

O mais recente deles é a rede portuguesa de resorts Vila Galé. O empreendimento, com inauguração prevista para o fim do ano, vai recuperar o antigo Colégio Dom Bosco, a quatro quilômetros da cidade. O investimento é de R$ 120 milhões.

“Hoje, 10% do fluxo turístico de Ouro Preto é internacional. A maioria é formada por turistas europeus. Esse é um dos motivos da vinda do Vila Galé. Quando fizeram a primeira visita, eles já sabiam o que era Ouro Preto. Acreditamos que essa inauguração nos ajuda a colocar a cidade na prateleira das agências de viagens e vai atrair mais estrangeiros”, explica Vecchia. 

Para o gestor público, ter o centro histórico reconhecido permite que toda a cidade e seu entorno sejam também oferecidos aos visitantes, diversificando a oferta e fortalecendo a política pública de regionalização do turismo. 

“Além do grande cartão postal que é a praça Tiradentes, Ouro Preto tem outras paisagens como o Pico do Itacolomi, a rua Direita – que recentemente entrou para a lista das mais ‘instagramáveis’ do mundo – e a Casa dos Contos, todas muito conhecidas pelo mundo. Mas o nosso Plano Municipal de Turismo quer mostrar muito mais. Temos 12 distritos, cada um com sua particularidade. Em Lavras Novas, temos o turismo místico; em São Bartolomeu, os doces; em Glaura, a arquitetura e história que são diferentes do centro da cidade, por exemplo. Ao mesmo tempo, trabalhamos o desenvolvimento de maneira regional. Estamos brigando pelo aeroporto em Conselheiro Lafaiete (região Central) e pela melhoria das estradas em parceria com o Circuito Turístico do Ouro e também com a Secult (Secretaria de Estado de Cultura e Turismo) e a Sede (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico)”, pontua o secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Tecnologia de Ouro Preto.

Para o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, Minas Gerais é um espaço estratégico para a diversificação da oferta turística brasileira, especialmente com seus patrimônios reconhecidos pela Unesco. 

“Minas é um espaço importante quando a gente vai vender o Brasil seja pela gastronomia, cultura ou festas. Em 2023, a Embratur promoveu um famtour (visita de agentes de turismo internacionais a convite) para as cidades históricas mineiras. Queremos nos aproximar mais do governo do Estado e das prefeituras para ajudar a colocar Minas nas prateleiras internacionais. Temos trabalhado a ideia de que o Brasil não é só sol e praia, e Minas é um prato cheio quando pensamos em cultura, natureza e gastronomia. O Estado é, portanto, fundamental dentro da nossa estratégia de diversificação de atrativos”, afirma Freixo. 

Congonhas executa ações de conservação

Também na região Central, Congonhas abriga o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. O conjunto, que é considerado uma das obras primas do barroco mundial, foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade, em 1985. A construção da segunda metade do século 18 consiste em uma igreja, com interior em estilo rococó, adro murado e escadaria externa decorada com estátuas dos 12 profetas em pedra sabão, além de seis capelas dispostas lado a lado no aclive frontal ao templo, denominadas Passos, ilustrando a Via-Crúcis de Jesus Cristo.

Santuário de Congonhas
Os Doze Profetas: um conjunto de esculturas feitas pelo artista Antônio Lisboa | Crédito: Divulgação / Prefeitura Municipal de Congonhas

As 66 esculturas de madeira policromada em tamanho natural, compõem um dos mais completos grupos escultóricos de imagens sacras no mundo, considerada uma das obras-primas de Aleijadinho.

De acordo com a diretora de Turismo e presidente do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) de Congonhas, Cristiane Nobre, estar à frente da diretoria de turismo de  uma cidade reconhecida pela Unesco é uma responsabilidade muito grande.

“Temos feito várias ações de conservação do patrimônio, bem como de divulgação do destino. As 64 imagens dos passos estão sendo tratadas de acordo com autorização do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), assim como os 12 profetas. O Santuário é o indutor do turismo na cidade, mas temos que mostrar que Congonhas vai muito além dos Profetas. Os eventos são um grande chamariz de turistas para a cidade. Tivemos uma Semana Santa maravilhosa com o ator Amaury Lorenzo, filho da terra, representando o Cristo. A repercussão foi enorme e o número de turistas aumentou. Em maio teremos a tradicional festa da Quitanda. Sabemos do potencial da cidade e estamos lançando o programa Avança Turismo, que é um programa de microcrédito para fomentar novos negócios no entorno da Basílica”, enumera Cristiane Nobre.

Para diversificar a oferta de produtos turísticos, o Instituto Histórico Geográfico de Congonhas (IHGC), tem contribuído para a descoberta de novas experiências e a Associação do Circuito do Ouro (ACO) orientado o desenvolvimento de roteiros regionais com as cidades de Ouro Branco, Mariana e Ouro Preto, que fazem parte da  rota “Entre Cenários da História”.

“A nossa grande missão é transformar os visitantes em turistas, permanecendo mais de dois dias na cidade e desfrutando das várias atrações turísticas e da nossa gastronomia e hospedagens. E o mais importante é a união de secretarias, associações e entidades para continuarmos com o título da Unesco”, destaca a diretora de Turismo de Congonhas.

Diamantina conquista múltiplos reconhecimentos

Cenário de filmes e novelas, Diamantina (Vale do Jequitinhonha), além de Patrimônio reconhecido pela Unesco, é dona de outros tantos títulos. Os apanhadores de flores sempre-vivas receberam a honraria de Patrimônio Agrícola Mundial, sendo o primeiro no Brasil e quarto na América Latina, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). 

O reconhecimento da FAO se dá por todo o modo de vida, que abrange aspectos históricos, sociais e de relação com o meio ambiente. Neste caso, os agricultores também se dedicam a outras atividades para o sustento familiar, como as pequenas criações de animais, a coleta agroextrativista de frutos, além da roça de toco. 

Segundo o secretário Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico de Diamantina, Alberis Vinícius Cristiano Mafra, a imagem mais conhecida da cidade é o Passadiço da Casa da Glória. A ponte elevada e cercada, que protegia as internas do antigo orfanato dos olhares cobiçosos dos rapazes da cidade, foi a escolhida para representar o conjunto histórico durante a candidatura à Patrimônio Histórico. O reconhecimento aconteceu em 1999.

Passadiço da Casa da Glória, em Diamantina
Imagem mais conhecida da cidade de Diamantina é o Passadiço da Casa da Glória, de 1870 | Crédito: Divulgação / Prefeitura Municipal de Diamantina

“Hoje a Casa da Glória e a logomarca da Unesco estão inseridas em toda a comunicação sobre a cidade e também na sinalização, de acordo com o manual de aplicação da entidade. Diamantina já era ligada com o mundo por causa da mineração. A cidade é toda uma paisagem natural que traz referência dos povos da terra e uma cultura única como os apanhadores de sempre viva, com o título da FAO. Agora estamos buscando o título de ‘Cidade Criativa da Música’.  A economia criativa é impulsionada pela cultura e o turismo tem trazido vantagens competitivas. Temos trabalhado com diferentes instâncias como a Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial (OBCPM);  a Associação das Cidades Históricas, o Circuito dos Diamantes e o Corredor Turístico Estrada Cênica de Lagoa Santa a Diamantina (iniciativa da mineradora Anglo American). O sentimento de pertencimento da comunidade é muito importante. As pessoas vêm pra cá pra conhecer o nosso modo de vida”, pontua Alberis Mafra.

O Corredor Turístico terá cerca de 250 quilômetros de extensão, partindo da MG-010 até a Via Saint-Hilaire, na LMG-735. O percurso oferece conexão de um eixo principal de transporte que abriga a Serra do Espinhaço.

A Serra, inclusive, mereceu, em 2019, um reconhecimento só para ela, pela Unesco: Reserva da Biosfera do Espinhaço. O título contempla a fase dois da iniciativa que priorizou na primeira, em 2005, o trecho mineiro – de Ouro Branco, na região Central, a Diamantina. Com o reconhecimento, Minas fica com 172 cidades na área.

Distante 271 quilômetros do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte (BH Airport), em Confins, na região metropolitana da Capital, o acesso à Diamantina pode ser feito passando por Cordisburgo, em estradas estaduais, ou por Curvelo, usando a BR 259.

“Tivemos conversas com o governo do Estado sobre a implantação de uma linha direta do BH Airport para Diamantina e também sobre a reativação do nosso aeroporto regional, que está pronto, mas ainda não conseguimos dar andamento a essas demandas”, completa o secretário de cultura e Patrimônio de Diamantina.

Uberaba também tem patrimônio reconhecido pela Unesco

O mais recente reconhecimento concedido pela Unesco a Minas Gerais foi o Geoparque Uberaba: Terra de Gigantes, no Triângulo Mineiro, em março. Sexto do País e o primeiro da região Sudeste, o espaço mereceu a certificação por sua história e cultura preservadas de forma sustentável. Os geoparques são locais propícios para estudos científicos, educação ambiental e turismo responsável, contribuindo para o crescimento socioeconômico e a preservação do patrimônio natural e cultural.

O nome ‘Terra de Gigantes” é uma alusão às três principais identidades históricas e culturais uberabenses, relacionadas ao patrimônio geológico – por abrigar fósseis de dinossauros -, ao potencial agropecuário – Uberaba é reconhecida como capital mundial da raça Zebu -, e por ser a cidade onde viveu o médium Chico Xavier.

“Ter o Geoparque Uberaba com a chancela da Unesco é motivo de orgulho. Esse reconhecimento internacional inaugura um novo momento para a cidade, para o Triângulo Mineiro e para Minas Gerais, projetando o Estado para todo o mundo e gerando ainda mais desenvolvimento econômico, emprego e renda”, comemora o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira. (Com informações da Agência Sebrae de Notícias)

Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail