Mercado de M&A movimenta US$ 66 bi em 1 ano

Empresas apostam em estratégias de diversificação da linha de produtos e de posição geográfica privilegiada

30 de julho de 2022 às 0h27

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A Embaré e a Betânia anunciaram uma fusão que resultou na criação da Alvoar Lácteos | Crédito: Divulgação

Expandir, fortalecer e inovar. As ações simbolizam alguns dos objetivos daquelas empresas que prospectam e realizam aquisições ou fusões. A estratégia aqueceu o mercado no ano passado. De acordo com relatório da Bain & Company, empresa do ramo de consultoria de gestão, o balanço de 2021 demonstrou o maior volume de transações em dez anos. Em valores, o fato significa que o mercado de Merge and Acquisitions (M&A) – fusões e aquisições em português – movimentou US$ 66 bilhões.

O valor correspondente a cerca de R$ 360 bilhões pela cotação atual pode causar estranheza em meio a um ano pandêmico e de desafios no cenário econômico. Mas a situação ruim do mercado pode favorecer esses negócios. É o que explica o coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio André Neto. Segundo ele, as empresas que têm caixa podem aproveitar momentos difíceis da economia para fechar negócios (aquisições), já que os valores dos negócios podem estar mais baixos.

Essa lógica ocorre no caso das aquisições. E o que diferencia, portanto, uma fusão de uma aquisição? De acordo com Eduardo Coutinho, coordenador do curso de administração do Ibmec de Belo Horizonte, a aquisição ocorre quando uma empresa compra a outra. E, a partir disso, a empresa responsável sucede aquele negócio em todos os seus direitos e obrigações. Já no caso da fusão, duas empresas se unem e formam uma terceira empresa, havendo distribuição de capital. 

Contudo, apesar do recorde de negócios firmado no último ano, a professora da Fundação Dom Cabral (FDC), Lívia Barakat, lembra que as fusões são menos comuns. “Por questões de manutenção de marcas e listas de produtos, ou em função do próprio processo, essas operações acabam se caracterizando uma aquisição”, afirma a especialista.

Oferta pública de ações – O próprio relatório da Bain & Company sinaliza que parte do volume de negócios se deu pela aquisição de empresas após a oferta pública de ações. Dessa forma, as empresas que receberam investimentos ao abrir o capital também fizeram aplicações em negócios já existentes. 

As empresas se unem ou compram novos negócios de acordo com decisões estratégicas. Diversos são os fatores que estimulam esse interesse, conforme citaram os especialistas. Entre eles, estão oportunidade de crescimento; ingresso em novas áreas geográficas; incorporação de produtos ao mix oferecido; ampliação na participação do mercado (market share); e chance de agregar conhecimento e experiência de outras gestões. 

O especialista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Antônio André Neto, ressalta que as aquisições também podem ocorrer de acordo com necessidades mais isoladas. Nesse caso, ele afirma que é comum que empresas comprem negócios de fornecedores ou façam, por exemplo, aportes de tecnologias. A diversificação do segmento também é uma estratégia adotada. “Eu estou percebendo que haverá mudança no mercado e minha demanda vai diminuir no negócio atual. Eu posso adquirir uma empresa de outro segmento”, destaca. 

Especificamente sobre a fusão, Lívia Barakat, da Fundação Dom Cabral, lembra que esses negócios tendem a ocorrer dentro de um mesmo segmento. Em muitos casos, essas corporações são, até mesmo, concorrentes. Além da semelhança na atuação das empresas, ela pontua que elas devem ter competências complementares.

“Para que a fusão faça sentido, as empresas devem agregar competências e utilizar a oportunidade para ganhar eficiência. À medida em que se unem, as empresas otimizam processos, áreas e, muitas vezes, se tornam maiores”, afirma. 

Recentemente, as empresas lácteas Embaré e Betânia figuraram no mercado uma fusão bilionária. A Embaré, vale lembrar, tem forte atuação no mercado mineiro e na exportação para 64 países. Com base no Ceará, a Betânia, por sua vez, tem presença mais disseminada em estados da região Nordeste. Após terem a fusão autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), as empresas anunciaram o nascimento da Alvoar Lácteos

O CEO da Alvoar Lácteos, Bruno Girão, afirmou que a estratégia da empresa é aproveitar a capacidade e a qualidade de fornecimento de leite que a Embaré possui. Mas esse foi só um dos motivos apresentados em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO no momento da criação da nova marca. A expansão do market share e a criação de novas linhas de produtos também são objetivos da Alvoar após a consolidação da fusão. A decisão das empresas, no entanto, foi de manter o nome das marcas no mercado para que os consumidores seguissem com as embalagens de costume.

O papel do Cade, conforme explica Lívia Barakat, é o de garantir que fusões não se caracterizem por monopólios. Garantir a concorrência entre os players (líderes) do mercado é fundamental, segundo a especialista, para que a concentração não desequilibre as margens de fornecedores.

Vantagens

Ainda de acordo com Antônio André Neto, a aquisição de uma empresa é uma estratégia para aqueles empresários que buscam um passo à frente. “Eu sou dono de uma empresa e quero começar um negócio em outro Estado. Eu posso começar do zero ou comprar um concorrente. E, ao fazer isso, eu compro uma carteira de negócios, de clientes, de fornecedores, as relações que a empresa já tem com sindicatos e associações classistas”, exemplifica. 

Esse encurtamento do processo não é a única vantagem. As aquisições, conforme complementa Neto, costumam ser processos rápidos, de alguns meses. Os compradores, nesse caso, terão o benefício de uma empresa funcionando já no dia após a assinatura do contrato. 

Como exemplo de aquisições no mercado de Minas Gerais, o destaque está naquelas empresas que investiram em ativos energéticos e hospitalares. É o caso da Engie, da Cemig SIM – empresa do segmento solar da Companhia Energética de Minas Gerais -, e da Companhia Energética Integrada (CEI). Ao longo do ano passado, a rede Mater Dei anunciou uma série de aquisições de fatias de instituições. O foco principal é levar o modelo de atendimento a outras regiões do País.

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