Escolas de Contagem fazem cinema

11 de dezembro de 2020 às 0h08

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Crédito: Pixabay

Tilden Santiago*

A Ekopolis, ONG que objetiva a Educação Popular, no âmbito da cidadania, da ecologia, das artes e da cultura em geral, complementando a educação formal, nas escolas, vê e acompanha, com satisfação, a exemplar iniciativa de alunos e professores de Contagem, que este escriba e a professora Luzia, co-fundadores da Ekopolis, revelam hoje, em artigo aos leitores do DIÁRIO DO COMÉRCIO.

Aceitar que estamos cada vez mais dependentes das novas tecnologias e que a nossa comunicação com o mundo só se viabiliza por meio dos recursos audiovisuais hoje é fácil.

Em 2013, no entanto, essa ideia ainda não era consenso entre os educadores, quando um grupo de professores de Contagem, em busca de práticas inovadoras para motivar seus alunos, toparam participar de uma formação ofertada pela Fundação de Ensino de Contagem –  Funec e coordenada pela Professora Inês Teixeira (FAE /UFMG). Foi uma sementinha plantada naquele ano, sem grandes pretensões, que vem transformando a prática de muitos professores em escolas do município.

Com a aprovação da Lei 13.006/14, de autoria do então senador Cristovam Buarque, que alterou o Art. 26 da LDBN, exigindo que as escolas incluíssem em seu projeto pedagógico a exibição de, no mínimo, duas horas mensais de filme de produção nacional. A intenção do senador era proteger a indústria cinematográfica brasileira – objetivo mais que louvável.

Muitos dizem que o senador mirou a produção audiovisual e acertou a educação. Foi nesse contexto que os educadores de Contagem criaram um grupo de trabalho para disseminar o cinema como ferramenta pedagógica, levando a outras escolas suas experiências exitosas.

Não há nada melhor para aproximar alunos e professores do que uma atividade extraclasse. Se a professora propõe: “vamos fazer um filme?”, a adesão ao projeto é imediata.  Basta uma pequena explicação de cada etapa para que as crianças já iniciem a organização dos grupos (o do roteiro, o do som, quem vai dirigir e quem vai atuar, quem vai editar) e sempre tem aquele (a) que já sabe, pois as crianças aprendem em diferentes espaços. Então, quando o educador mergulha com os estudantes na pesquisa em busca do “como fazer”, acaba quebrando aquela barreira da relação vertical, e aí, algo mágico acontece. Isso é horizontalidade. Todos se colocam na posição de quem precisa aprender para colaborar na execução do que foi proposto. Desafio para alguns educadores? Talvez sim, mas para esses professores do GT Educação e Cinema significa inovação.

Pensando assim, a professora Heloísa Caputo e o professor Márcio Januário iniciaram um projeto com os estudantes dos últimos anos do Ensino Fundamental na Escola Municipal Vasco Pinto da Fonseca, em 2017, que já se consolidou e vem conquistando a comunidade.  Além de exibir filmes nacionais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, os dois iniciaram as oficinas de cinema, mostrando que, para além de consumidores, os adolescentes também podem produzir seus filmes. Em 2018, já tiveram filmes selecionados para a Mostra Educação, que faz parte da programação da Mostra de Cinema de Ouro Preto – Cineop, e outro filme selecionado para o 6º Festival Internacional de Cine para Adolescentes, realizado em San Martin de Los Andes, na Argentina.

Este ano, devido à pandemia, alguns festivais foram adiados e outros serão realizados virtualmente.

Ainda sobre a Lei 13.006/14, certamente os cineastas vão dizer que ainda não sentiram os efeitos da Lei do senador, o que é perfeitamente compreensível, pois educação é processo, é como cultivar uma árvore, partindo da germinação da semente. Os resultados vêm em médio e longo prazo.  Não temos dúvida de que o cinema brasileiro colherá os frutos lá na frente, pois o estudante, ao perceber que o professor dá preferência para um filme brasileiro, que também tem qualidade, passará a desenvolver o gosto por produções que retratam a nossa cultura, que contam histórias do nosso povo, e o melhor, em nosso idioma.  Ninguém pode gostar do que não conhece. Se quisermos formar plateia para o cinema nacional, devemos considerar que ela se encontra, hoje, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental.

*Jornalista, embaixador e sacerdote itinerante (com a colaboração da professora Luzia Lima, da Funec e co-fundadora da ONG Ekopolis)

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