VIVER EM VOZ ALTA | Os panfletos da Independência

11 de junho de 2021 às 0h15

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Crédito: Divulgação

Iniciada em 21 de abril, quando conversei com o jornalista Lucas Figueiredo sobre Tiradentes, a série especial “22 entrevistas no Bicentenário da Independência” é a contribuição da Academia Mineira de Letras (AML) para a necessária reflexão nacional sobre a data que celebraremos no 7 de setembro do ano que vem. Além do diálogo com Lucas, também já estão no canal da AML no youtube as sessões realizadas com Mary del Priore (sobre José Bonifácio de Andrada e Silva), Laurentino Gomes (sobre ‘1822’) e Paulo Rezzutti (sobre a Princesa Leopoldina, tema de um de seus livros). Desde ontem, está no ar o bate-papo com José Murilo de Carvalho, um dos mais importantes historiadores brasileiros, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências. Os próximos entrevistados serão os professores José Luís Cardoso, professor da Universidade de Lisboa e membro da Academia de Ciências de Lisboa, e João Paulo Garrido Pimenta, da Universidade de São Paulo, grande estudioso dos processos de Independência dos países da América Latina.

 Mineiro de Piedade do Rio Grande, José Murilo de Carvalho formou-se em sociologia e política pela UFMG, fez mestrado e doutorado em ciência política pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e pós-doutorado em história da América Latina na Universidade de Londres, sendo, ainda, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. São de sua autoria livros fundamentais para a compreensão da história do país, como “A construção da ordem: a elite política imperial”, “Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi”, “Teatro de Sombras: a política imperial” e “A formação das almas: o imaginário da República no Brasil”.

 Na entrevista, José Murilo falou sobre a majestosa obra que organizou ao lado dos professores Lúcia Bastos e Marcello Basile: “Guerra Literária: Panfletos da Independência (1820 – 1823)”. Publicada em quatro volumes, em 2014, pela Editora da UFMG (então dirigida pelo acadêmico Wander Melo Miranda), a imensa pesquisa trouxe refinada análise de trezentos e sessenta e dois textos relativos ao mencionado período histórico, entre panfletos, cartas, reflexões, projetos, sermões, orações, discursos, catecismos, dicionários, poemas e relatos. A circulação de tais conteúdos – assinados por cerca de noventa autores, cujos perfis também foram devidamente estudados – revelou-se essencial para a emergência do debate coletivo sobre a Independência do Brasil e a formação da opinião pública a respeito do tema. Com força suficiente para atingir os extratos menos letrados da população da época, os chamados ‘panfletos’ levaram notícias e informações a segmentos não alcançados pela imprensa tradicional ou pelas comunicações oficiais, ampliando a divulgação dos valores do Iluminismo e combatendo a intenção de alguns portugueses de ‘recolonizar’ o Brasil. Os panfletos relativos à Guerra Cisplatina (1825-1828) mereceram especial atenção.

 No final da conversa, José Murilo de Carvalho ainda manifestou sua visão a respeito do país duzentos anos depois da Independência, lamentando o fracasso da sociedade brasileira em promover a igualdade social, realidade que salta aos olhos de todos os que possuem o mínimo de sensibilidade para o que se passa à sua volta.

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