Candidatos intensificam as negociações na corrida pela presidência da Câmara

26 de janeiro de 2021 às 0h15

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Crédito: Adriano Machado/Reuters

Brasília – Com uma semana decisiva pela frente, os principais candidatos à presidência da Câmara – Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), intensificam negociações, contam votos e monitoram a piora na popularidade do presidente Jair Bolsonaro, em um cenário que ainda tem uma boa carga de indefinição.

Grande parte do suspense sobre a eleição da Mesa da Casa deve-se ao fato de o voto ser secreto, o que dá margem às chamadas “traições”. Além disso, não deve ser desconsiderada a tendência dos deputados de deixarem a decisão para os últimos instantes antes da eleição, marcada para 1º de fevereiro.

“O que a gente tem visto até o presente momento é que há uma tendência favorável ao Lira, mas a gente identifica também que muitos deputados vão deixar para decidir aos 45 do segundo tempo, para ver quem garante efetivamente as promessas que tem feito, sobretudo pelo fato de que nas últimas semanas o governo tem sofrido muito com os equívocos na gestão da pandemia, a situação toda em Manaus tem cobrado um preço do presidente”, avaliou o consultor de risco político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza.

Lira é encarado como o favorito na disputa, tendo conseguido o apoio da maioria dos integrantes do PSL e do PTB na última semana, além de contar com a preferência da maior parte dos integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Há quem considere, caso de um parlamentar que acompanha de perto as movimentações do candidato, que a situação já implique em um game over para Baleia.

As estimativas desse deputado dão conta de quase 300 votos para Lira, acima dos 257 necessários para garantir a eleição já no primeiro turno de votação. O líder do chamado centrão, com o apoio declarado do presidente Jair Bolsonaro, tem investido em uma intensa agenda de viagens a estados para ouvir dos parlamentares suas demandas locais.

Baleia, por sua vez, também vem tentando dar ritmo à sua campanha, lançada no fim de 2020, bem depois de Lira. O emedebista utiliza como estratégia a tentativa de deixar claro que Lira é o candidato de Bolsonaro, reforçando o discurso já adotado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), articulador da candidatura.

Por isso mesmo, o apoio angariado pelo deputado do PP pode sofrer os efeitos da queda na popularidade de Bolsonaro verificada por institutos de pesquisa na semana passada, diante da crise da falta de oxigênio no Amazonas, além da polêmica em torno das vacinas e de seus atrasos.

A partir desse pano de fundo, o ânimo popular será acompanhado de perto pelos parlamentares para firmarem posição. No fim de semana, diversas capitais do país tiveram manifestações contra o presidente.

Ontem, pesquisa XP/Ipespe apontou uma piora tanto na avaliação do governo como na percepção da atuação de Bolsonaro no combate à crise do coronavírus. A fatia dos entrevistados que consideram o governo “ruim” ou “péssimo” passou de 35% para 40%, enquanto os que consideram o governo “ótimo” ou “bom” saíram de 38%, em dezembro, para 32%.

Levantamento Datafolha divulgado na sexta-feira (22) também registrou piora na popularidade do presidente. Enquanto os que consideram a gestão Bolsonaro ruim ou péssima partiram de 32% em dezembro para 40% neste mês, os que a veem como ótima ou boa passaram de 37% para 31%.

“Esse elemento tem feito com que algumas posições que talvez fossem colocadas de forma mais precoce em outra situação, hoje têm sido postas mais sutilmente, os parlamentares têm sido mais discretos na manifestação de apoio aos candidatos do presidente”, acrescentou Creomar. (Reuters)

Cenário das eleições ainda é indefinido 

Brasília – Ainda que indefinido e com algum tempo pela frente para surpresas, o retrato do momento registra vantagem de Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados. Baleia Rossi tem de lidar, por exemplo, com as divisões dentro de partidos que no final de 2020 declararam-se favoráveis à sua candidatura.

Pelas regras regimentais, a formalização desse apoio por meio da constituição de blocos partidários só ocorre diante da concordância da maioria dos integrantes de cada bancada. É por isso que Lira declara ter mais que a metade dos votos do PSL e do PTB.

Baleia enfrenta rachas no próprio Democratas, de Rodrigo Maia, e até mesmo em partidos da esquerda.

No caso do DEM, há um mosaico de fatores que direcionam diversos de seus integrantes a um apoio a Lira, seja o custo político de integrar formalmente um bloco do qual o PT faça parte, seja por falta de diálogo com o próprio Maia, ou ainda por identificação ideológica com pautas de Bolsonaro. Há ainda os deputados ligados a ministros do partido, Tereza Cristina, da Agricultura, e Onyx Lorenzoni, da Cidadania, dispostos a votar com o governo.

Já no PT, a resistência paira em relação ao MDB, partido do ex-presidente Michel Temer, a quem petistas creditam parte da articulação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, entre outros pontos.

Há ainda questões pragmáticas em outros partidos da esquerda, caso do PSB e do PDT. Parlamentares desses dois partidos tiveram reuniões com o governo, que acionou suas comportas e acenou com emendas.

Mesmo entre partidos do espectro mais à direita, que oficialmente apoiam Baleia, há aqueles que se identificam com bandeiras do governo, caso dos deputados ligados ao agronegócio e a bancada evangélica.

Duas fontes avaliam que Lira assume o apoio do Planalto quando lhe convém, mas não o utiliza como uma constante, deixando ao principal adversário a tarefa de colar nele os eventuais arranhões na imagem de Bolsonaro.

Para essas duas fontes, também prevalece a percepção que o líder do centrão não tem entre suas prioridades a pauta de costumes do bolsonarismo e também não servirá de blindagem a eventual impeachment de Bolsonaro.

Essa também é a visão do CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza, para quem não há, no momento, ambiente para o início de um processo de impedimento do presidente da República. (Reuters)

Lira: orçamento com mais “liberdade” 

Brasília – O candidato à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu ontem um orçamento com mais “liberdade”, o que seria possível por meio da discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) emergencial, mas ponderou que não haverá subtração de direitos para se obter espaço fiscal.

Visto como o nome do governo para a sucessão do comando da Câmara, Lira também apontou como prioridades, ao lado da PEC emergencial, as reformas administrativa e a tributária, além do Orçamento para este ano. A expectativa do deputado é que as medidas possam ser votadas ainda no primeiro semestre, ou no máximo neste ano, evitando deixar as discussões para 2022, quando ocorrerão as eleições gerais.

“O que o Congresso precisa fazer… e vem muito ali na PEC emergencial, é justamente isso, é dar mais liberdade, e aí sim, sem apontar abono, sem apontar aposentados (como fontes), porque isso é onde você vai logo na ferida mais dura, apontar caminhos de desindexação, claro, de possibilidade de gatilhos, claro, de desvinculação”, disse.

“Porque não cabe na minha cabeça e nem na cabeça de ninguém que os parlamentares vão usurpar direitos de A, de B ou de C para arrumar fiscal”, acrescentou.

Lira defendeu que é importante a sinalização de um orçamento “mais ágil” e “mais moderno”, de forma a possibilitar que “em uma dificuldade pandêmica como essa, ou em uma dificuldade econômica, ou em uma dificuldade estrutural, a gente tenha mais liberdade”.

O deputado avaliou que, dentre as propostas elencadas como essenciais, a reforma administrativa é “mais significativa” ao sinalizar a contenção de despesas públicas. Ponderou, também, que esta reforma tributária já se encontra há quase dois anos em discussão no Legislativo e é uma matéria “complexa”, ainda que a simplificação tributária seja a vontade de “todos os setores, todos os Estados”. Aproveitou para cobrar que o relatório dessa reforma seja rapidamente apresentado.

“Na sequência eu acho que vai ser muito mais fácil a discussão politicamente tanto da (PEC) emergencial, tratada com clareza, quanto da administrativa. E a tributária, quando ela aparecer, o relatório, as minúcias e interesses de setores produtivos de comércio, varejo, de estados, de município, de todo esse contexto, ela vai dar mais trabalho. Mas vamos fazer muita força para que no primeiro semestre tenhamos resposta para essas três PECs”, garantiu. (Reuters)

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