Fungo controla pragas em 14 culturas

24 de junho de 2020 às 0h10

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Crédito: Maurício Meyer/Embrapa

O uso de bioinsumos deve apresentar crescimento significativo no Brasil ao longo dos próximos anos, principalmente, devido à tendência de maior demanda por produtos de melhor qualidade e rastreados.

Para auxiliar os produtores, pesquisadores e diversos profissionais do setor agrícola, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou a publicação “Trichoderma – uso na agricultura”. O fungo Trichoderma spp é considerado um dos mais importantes agentes biológicos no controle de doenças em, pelo menos, 14 culturas agrícolas.

Segundo a Embrapa, uma das principais doenças tratadas com o uso de biopesticida à base de Trichoderma – aliado ao uso de químicos – é o mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorume e que atinge a produção de soja.

A estimativa da Embrapa é de que aproximadamente 10 milhões de hectares de cultivo de soja estejam infestados por este fungo no País. O fungo prejudica o desenvolvimento da planta e reduz a produtividade da soja. Os biopesticidas à base de Trichoderma também são utilizados no controle de doenças no algodão, milho, frutas, hortaliças, entre outros.

O pesquisador da Embrapa Soja, Maurício Meyer, explica que o uso do biopesticida é essencial no controle do mofo-branco, uma vez que somente o uso de químicos não é suficiente para um bom manejo da doença na cultura da soja.

“Temos que considerar que, mesmo com a maior eficiência de controle químico, ainda ocorre produção de inóculo da doença. Por isso, as demais medidas de manejo devem ser adotadas em conjunto para inviabilizar a manutenção do fungo durante a entressafra”, explicou Meyer.

Com uso cada vez maior e atendendo a uma demanda por uma produção mais sustentável, os biopesticidas estão ganhando mercado e a tendência é de manutenção do crescimento da demanda.

Mercado em expansão – De acordo com o gerente de assuntos regulatórios da Biotrop, engenheiro agrônomo e doutor em proteção de plantas, Juliano César da Silva, o mercado de biopesticidas vem apresentando um crescimento anual de 15% no mundo.

Em 2017, o volume global comercializado movimentou US$ 6,4 bilhões e a expectativa é de que, até 2024, os valores atinjam US$ 16,7 bilhões, demonstrando a importância destes produtos na proteção dos cultivos agrícolas. Ele explica ainda que entre os produtos biológicos se destacam aqueles à base de Trichoderma.

“Atualmente, existem 246 produtos à base desse fungo registrados em diferentes países. Hoje, entre as várias espécies desse fungo utilizadas para o controle biológico, o Trichoderma harzianum é a mais empregada no controle de doenças de plantas, representando cerca de 30% dos produtos registrados”, disse Silva.

Ainda segundo Silva, o mercado de bioinsumos em geral, no Brasil, também está em forte expansão. As vendas destes produtos subiram de R$ 262,4 milhões, em 2017, para R$ 464,5 milhões, em 2018, o que representou um avanço de 77%. Somente o mercado de biofungicidas teve incremento de 148%, em 2018, quando comparado ao ano anterior.

“É um crescimento bastante significativo e que mostra o interesse e a adoção do agricultor brasileiro na utilização da tecnologia, que tem baixo impacto ambiental e não apresenta resíduos, sendo importante para a saúde humana”.

Evolução no País – Os produtos à base de agentes de biocontrole registrados no Mapa, em 2019, representavam menos de 20% do total quando comparado com os produtos químicos. Entretanto, o número de registros saiu de 27, em 2011, para mais de 200 em 2019.

“Ainda que a participação seja pequena quando comparada com os químicos, houve um crescimento bastante interessante dos produtos de biocontrole. Demonstrando uma tendência de crescimento de registros e da disponibilização desses produtos para os agricultores”, explicou Silva.

Em 2019, existiam 23 produtos à base de Trichoderma registrados no Mapa. Silva explica que, em 2020, devido à demanda crescente por produtos biológicos, o Mapa publicou, em maio, o decreto sobre o Programa Nacional de Bioinsumos e, nos próximos meses, possivelmente, serão divulgadas novas informações que irão nortear a legislação brasileira em relação aos novos registros de novos produtos.

Distribuição ainda é um desafio

Apesar da demanda grande, ainda são enfrentados diversos desafios em relação aos bioinsumos. Um deles é o ajuste entre a produção em escala e a logística de distribuição e de transporte deste produto biológico. Também existe a necessidade de pesquisas voltadas para melhoria das formulações, com o objetivo de aprimorar a estabilidade dos produtos e favorecer a aplicabilidade do Trichoderma.

Ainda em relação aos cuidados no transporte e armazenamento, a aplicação dos biológicos no campo também precisa de atenção e cuidados essenciais, isso porque o produto carrega um ser vivo. Desta forma, é necessário mantê-lo em condições especiais de temperatura e umidade, para que o fungo se mantenha viável.

O professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Sérgio Mazaro, destaca que os produtos à base de Trichoderma são importantes alternativas para o manejo integrado de doenças, porém, é preciso fazer um uso correto para que o produto seja eficiente.

“A adoção destes produtos gera a necessidade de pesquisas aplicadas para definição do posicionamento dos produtos, principalmente quanto à dosagem, formas de aplicação, condições ambientais no momento da aplicação, condição de cobertura de solo, compatibilidade de aplicação com outros produtos, entre outras questões que interferem no campo”, explicou.

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