Não vai faltar efervescência

“A politica não é uma ciência exata.” (Bismarck)

A exemplo do PSDB, o PMDB resolveu adentrar à cancha para disputa sucessória. Lançou como pré-candidata a senadora Simone Tebet. Ela chegou dizendo a que veio. Criticando o governo, com ênfase em sua atuação – que classificou de desastrada – no combate à pandemia, a aspirante peemedebista à Presidência deixou positivado que sua campanha será de oposição a Bolsonaro.

Os sinais de articulação de candidaturas noutros redutos são bem intensos. É certo que Ciro Gomes será lançado pelo PDT. Tem-se como certa também a presença no páreo do ex-ministro Sergio Moro, recentemente filiado ao Podemos. Outro ex-ministro parece, igualmente, prestes a oficializar sua entrada na contenda, trata-se de Luiz Henrique Mandetta, primeiro titular da pasta da Saúde no atual governo. A tendência de todos esses personagens é levar aos palanques discursos oposicionistas.

Enquanto tudo isso rola, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, embora apontados nas previsões dos analistas políticos como “candidatíssimos” ao supremo cargo da República, ainda não se declararam de forma categórica seus propósitos de concorrer. As movimentações de ambos fornecem fortes indícios de participação direta na disputa, ou – o que é bem menos provável – de se tornarem cabos eleitorais de marcante presença no enredo eleitoral.

O jogo político é repleto de astúcias. Não sendo a política uma ciência exata, as atitudes assumidas por militantes políticos resvalam, às vezes, domínios surreais. Uma hipótese impensável – digamos, uma junção de forças inconcebíveis – pode, de repente, não mais que de repente, adquirir sonoro timbre factual. De uma confabulação nos bastidores pode nascer, inopinadamente, uma aliança de grupos ou de postulantes a cargos eletivos de projeção totalmente fora das expectativas gerais e o foco arguto dos observadores mais  enfronhados em avaliações sobre o que sucede na vida pública.

Informações da hora presente dão conta de lances envolvendo candidatos em potencial capazes de oferecer desdobramentos sugestivos na composição definitiva do quadro sucessório. Lula, que vem liderando até aqui as pesquisas sobre intenções de votos e que vem estabelecendo, em viagens ao exterior, sucessivos encontros com líderes mundiais, admitiu indoutrodia, disposição em papear com seu antigo adversário Geraldo Alckimin, ex-governador de São Paulo. Alckmin estaria de malas prontas para deixar o PSDB, desgostoso com a decisão tucana de indicar João Doria como candidato à presidência. Analistas avaliam, a propósito, a possibilidade de Alckmin vir a ser vice numa eventual chapa liderada pelo dirigente petista, ou, então, de Alckmin vir acompanhar Lula em troca de apoio ao seu nome, como candidato, outra vez, ao governo paulista.

Jair Bolsonaro, citado em segundo lugar nas pesquisas, acaba de se filiar ao PL, partido presidido por Waldemar Costa Neto, um dos líderes do chamado Centrão, que foi aliado dos governos petistas. Doria diz ver com bons olhos uma possível aliança com Sergio Moro. O governador Tucano Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, que perdeu para o governador de São Paulo, a indicação na prévia do Partido, garantindo, logo após compromisso de apoiar Doria, promoveu encontro com Sergio Moro para troca de ideias sobre a sucessão, confessando-se satisfeito com os resultados da aproximação. Moro, a seu turno, vem “trocando ideias” com o ex-presidente Michel Temer, que foi vice no Governo de Dilma Rousseff.

Essas e outras articulações em curso, próprias do ambiente político, descortinam um panorama sucessório que promete muita efervescência. Espera-se que lá por volta de fevereiro a lista de candidatos já esteja devidamente composta. Mas, já a essa altura, especulações são lançadas por muita gente sobre o que acabará ocorrendo, em matéria de opção dos eleitores de candidatos perdedores na suposição, por exemplo, de um confronto em segundo turno entre Lula e Bolsonaro, Bolsonaro e Moro, Moro e Lula assim por diante.