Move completa 10 anos em BH: relembre história, expansão, desafios e pontos críticos

Sistema BRT Move foi inaugurado em BH no dia 8 de março de 2014. Dez anos depois, quais os pontos positivos e negativos? Veja na reportagem

8 de março de 2024 às 5h00

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Crédito: Charles Silva Duarte / Arquivo / Diário do Comércio

Neste mesmo dia, 8 de março, mas há uma década, era lançado o Move em Belo Horizonte. O sistema, então conhecido pela sigla genérica do BRT (transporte rápido por ônibus, na sigla em inglês) era a promessa para agilizar a mobilidade urbana, reduzir o tempo de deslocamentos e, claro, preparar o terreno para recepcionar os jogos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, que também aconteceriam na capital mineira. Passados 10 anos desde o 7 a 1, o que mudou no transporte público na cidade?

Para o especialista André Veloso, economista e integrante do movimento Tarifa Zero, o objetivo do Move de reduzir o tempo entre trajetos foi cumprido, mas com ressalvas. Segundo ele, um dos principais gargalos, hoje, se dá nas linhas alimentadoras, que ligam os bairros às estações de integração para o Centro. 

“O uso dos corredores nas avenidas Cristiano Machado e Antônio Carlos melhorou, realmente, mas o principal problema do Move atualmente é que ele não consegue coordenar bem as linhas alimentadoras com o sistema troncal. Há filas enormes nas alimentadoras e isso acaba virando um problema das pessoas do bairro, quando deveria ser do sistema como um todo. Muitos moradores encontram dificuldades para fazer a baldeação”, observa. 

Antes do sistema, um morador do bairro Céu Azul, em Venda Nova, por exemplo, pegava um ônibus que ia direto para o Centro da cidade, sem precisar descer na estação Pampulha, pegar fila e embarcar em uma linha troncal. “Enquanto o troncal continua fazendo deslocamentos muito rápidos e efetivos, as pessoas que moram nos bairros continuam sendo prejudicadas”, completa. 

Por outro lado, neste período, a capacidade de atendimento do sistema aumentou exponencialmente. Se no início os ônibus do Move transportavam cerca de 30 mil passageiros diariamente, hoje, são 350 mil usuários por dia, em 425 ônibus, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Primeira página do jornal DIÁRIO DO COMÉRCIO de março de 2014 conta como foi a inauguração do BRT Move em Belo Horizonte | Crédito: Reprodução
Primeira página do jornal DIÁRIO DO COMÉRCIO de março de 2014 conta como foi a inauguração do BRT Move em Belo Horizonte | Crédito: Reprodução

Move, 10 anos: uma linha do tempo

Até chegar aos 23 quilômetros atuais por onde o Move, hoje, se move na cidade, muita coisa aconteceu. A partir de sua implementação em 2014, o sistema foi ganhando novo desenho e sendo incrementado para impulsionar o seu desenvolvimento nos anos seguintes.

  • No dia 8 de março de 2014, o sistema BRT MOVE começou a circular em Belo Horizonte com três linhas troncais partindo da Estação São Gabriel com destino à região central, à Savassi e à região hospitalar.  
  • Já em abril daquele ano, foram criadas duas novas linhas troncais na Estação São Gabriel, além de mais dez linhas alimentadoras.
  • No dia 17 de maio de 2014, a operação BRT começou na avenida Antônio Carlos, com a inauguração da Estação Pampulha, operando inicialmente com três linhas troncais e, depois, com a criação de sete linhas alimentadoras atendendo aos bairros das regionais Pampulha e Venda Nova.
  • Depois, foram incorporadas novas linhas à Estação Pampulha, e criadas duas novas linhas troncais.
  • Ainda em junho de 2014, quatro linhas diametrais que trafegavam pela avenida Antônio Carlos foram transformadas em linhas do Move.
  • Em agosto de 2014, as estações Venda Nova e Vilarinho foram reformadas e suas linhas troncais passaram a integrar a rede do Move. 

Hoje, o sistema é muito mais amplo do que era há dez anos, e possui ramificações em toda a cidade. Clique aqui e confira o mapa.

Mapa do Move, sistema BRT de Belo Horizonte

Expansão deve ser financiada pelo Banco Mundial

Segundo a PBH, o Move será expandido para o vetor Oeste através do corredor Amazonas. “A licitação para os estudos e projetos do BRT Amazonas, através de financiamento com o Banco Mundial, está em andamento, na fase de negociação das condições de contrato com o consórcio vencedor da concorrência”, informou a Prefeitura.

A estimativa é que a ordem de serviço para início dos trabalhos seja emitida nos próximos meses.

Pontos positivos do Move

A PBH aponta como vantagens e facilidades do sistema:

  • Todas as estações de transferência possuem acesso gratuito à internet e, recentemente, todas as estações de integração também foram contempladas. 
  • Para todos os itens de manutenção (predial, escadas rolantes, elevadores, entre outros) a BHTrans possui um contrato vigente com empresas especializadas que são acionadas sempre que necessário. 
  • Existe também uma manutenção preventiva em todas as estações de transferência e de integração.
  • As manutenções de limpeza e conservação são feitas diariamente por empresas contratadas e a BHTrans faz o monitoramento de todos os serviços e aciona os responsáveis sempre que necessário. 

Pontos negativos do Move

O especialista André Veloso aponta como pontos negativos no sistema:

  • Falta de integração entre os bairros.
  • Integração tarifária entre os ônibus e metrô.
  • Falta de um bilhete único.
  • Falta de bicicletários nas estações.

Outros caminhos possíveis para a mobilidade urbana em BH

Crédito: Alessandro Carvalho

O presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana de Belo Horizonte, especialista em trânsito, transportes e assuntos urbanos e membro da Comissão Técnica de Transporte da Sociedade Mineira de Engenharia (SME), José Aparecido Ribeiro, acompanhou e acompanha o sistema, desde a sua implementação.

Enquanto o especialista André Veloso lembra que o Move surgiu como uma alternativa ao metrô, Ribeiro acredita que havia outras opções para a mobilidade urbana. Para ele, o objetivo de fazer as pessoas deixarem os carros em casa para usar o transporte público não se concretizou.

“A estrutura física da cidade parou no tempo, mas os carros continuam sendo emplacados. A estrutura não comporta. Para se ter uma ideia, hoje, temos mais carros do que gente na cidade. São 2,5 milhões de carros nas ruas”, conta. Segundo o último censo do IBGE, em 2022, a população estimada de Belo Horizonte era de 2,3 milhões de pessoas.

“É preciso um modal de transportes que tenha apelo de conforto para o usuário, de oferta de horários e de mobilidade para ele querer andar de ônibus. Dependendo do lugar que você mora, não adianta sair de casa pra pegar o coletivo, porque você vai ter que esperar, ou ir para outro lugar fazer a baldeação, e o ônibus vai acabar te deixando em outro lugar que não o seu destino”, comenta.

O custo do Move, segundo Ribeiro, é de R$ 60 milhões por quilômetro, considerando a construção das pistas e estações, e sem considerar os custos veículo. Outras alternativas apontadas por ele que poderiam substituir o sistema são o metrô subterrâneo, ao custo de R$ 500 milhões o quilômetro, e o monotrilho, no valor de R$ 80 a 100 mil o quilômetro. Ele cita também o VLT como uma boa opção. Trata-se de uma composição ferroviária a energia elétrica e que tem trilhos na superfície.

Desenho do sistema não previa o apogeu dos carros por aplicativo

O uso do transporte coletivo despencou em Belo Horizonte e isso é um problema de matemática financeira, segundo Aparecido. “Para manter o sistema em pé e com passagens viáveis para os usuários, seria preciso equacionar corretamente o número de quilômetros rodados com o número de passageiros transportados.

Ribeiro conta que a projeção inicial prevista à época da concessão do transporte público à iniciativa privada era de 32 milhões de passageiros por mês nos ônibus de Belo Horizonte. Hoje, a estimativa é de 20 milhões de usuários. Considerando somente o número de passageiros no sistema Move informado pela Prefeitura, o valor cai para 7 milhões de usuários por mês, levando em conta somente os dias úteis.

Crédito: Freepik

“A aposta do BRT foi errada para a topografia de BH, e também não tinha como saber que, uma década depois, haveria os carros por aplicativo, que são bastante usados. A verdade é que a população gosta de carro, e não tem um transporte coletivo com mobilidade e conforto para atendê-la. Qualquer pessoa dentro de um ônibus, se tiver oportunidade de ter um carro velho ou uma moto, vai ter”, analisa.

“Para se ter uma ideia, a pista dedicada ao uso exclusivo dos ônibus tem 27 quilômetros de largura, ida e volta, e a avenida Cristiano Machado, por exemplo, tem 50 metros de largura no total. Então, o que sobra ali para o tráfego dos carros é muito pouco, e isso piora o engarrafamento”, explica.

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