Corte na taxa Selic não deve alavancar consumo, mas beneficiará mercado de crédito

8 de maio de 2020 às 0h14

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Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Mais uma vez, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu a taxa Selic. A decisão, tomada na última quarta-feira (6), estabeleceu um novo patamar, o de 3% ao ano, embora muitos analistas financeiros esperassem algo em torno de 3,25% ao ano.

Mas, afinal, o que economistas e entidades pensam a respeito desse novo corte? Enquanto alguns defendem a obtenção de crédito mais barato, outros chamam a atenção para os impactos no câmbio.

Primeiramente, destacam os profissionais, deve-se levar em consideração o momento em que vivemos: o da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Conforme destaca o pesquisador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Marcel Balassiano, em situações normais, a diminuição dos juros estimula o consumo, mas, no momento, não se tem certeza de que isso irá ocorrer. Aliás, não se sabe se algo do tipo acontecerá agora e nem mesmo quando houver a flexibilização do isolamento social, medida tomada como forma de combate à doença.

A redução será benéfica, portanto, afirma ele, sobretudo para as empresas, que precisam honrar com suas obrigações. “Pegar empréstimos com juros mais baixos tem uma importância”, salienta ele.

Opinião semelhante sobre o consumo tem o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marco Flávio Resende. De acordo com ele, não será a queda da Selic que irá estimular uma circulação maior do dinheiro das pessoas, uma vez que isso depende mais de fatores como emprego e renda. A ação também não deverá servir para que as empresas façam novos investimentos neste momento “nem se os juros forem a 0%”, diz.

A baixa histórica da taxa básica de juros da economia do Brasil também não deverá exercer um efeito inflacionário, segundo o professor, já que há uma tendência de queda de preços muito forte atualmente. Ele lembra que as pressões inflacionárias até agora foram pontuais, como na alimentação.

No entanto, afirma Marco Flávio Resende, a redução da Selic fará com que o governo evite gastar dinheiro pagando juros da dívida. Nesse sentido, afirma, “quanto mais reduzir a Selic, melhor”.

A economista e reitora do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte, Márcia Mota, por sua vez, acredita que pode haver, sim, um estímulo à economia por parte das famílias. Para ela, a redução da Selic “é uma forma de o governo sinalizar que quer injetar dinheiro na economia via taxa de juros”.

Os indivíduos, afirma ela, podem se atrair mais pelo crédito, sobretudo aqueles que tiverem necessidade de buscá-lo para passar por este momento. “É uma forma de as pessoas passarem por isso de uma forma mais serena, havendo a necessidade de tomada de crédito”, diz.

Para ela, a medida também afetará as empresas, que poderão contrair crédito para a “manutenção de algum custo, devido à queda momentânea na receita”, avalia, lembrando, contudo, que tudo deverá ser em caso de necessidade. Não é o momento, diz, de expandir produção e nem de ampliar o consumo.

Câmbio – Em meio a todo esse cenário, o economista e professor do Ibmec-MG, Hélio Berni, chama a atenção para outro ponto: o câmbio. Ele destaca que se reduz a taxa de juros para gerar alento, mas existem outras coisas em jogo.

“O dólar deu uma subida repentina com a redução da taxa Selic, chegando a R$ 5,87”, destaca. Conforme ele afirma, isso pode gerar uma pressão sobre as empresas, tendo em vistas que matérias-primas importadas terão seus preços elevados. Como não é possível repassar esse gasto para os consumidores no momento, “as empresas vão ter de enxugar ainda mais a margem de lucro”, diz.

Professora de economia do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Silvânia Araújo também chama a atenção para o fato de que pode haver impactos negativos para as empresas em relação ao câmbio. Ela lembra, por exemplo, daquelas que têm dívidas em moeda estrangeira. “É um componente que pode contribuir para prejudicar a saúde financeira”, salienta.

A medida seria boa, porém, para os exportadores. Contudo, lembra ela, as exportações, em muitos setores, também não estão em seu melhor momento.

Fiemg aponta ritmo lento de redução

Entidades de Minas Gerais também se manifestaram acerca do corte na Selic. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em nota, afirmou que o ritmo de corte da Selic está lento no Brasil, diferentemente do que acontece em outros países. “O setor produtivo espera a contribuição da política monetária para melhora das condições de crédito, especialmente para capital de giro”, diz.

De acordo com a Fiemg, “a recessão brasileira está contratada, e as expectativas para a inflação têm viés deflacionário, a despeito da desvalorização cambial. A indústria brasileira clama por uma taxa de juros real próxima de zero no curto prazo para dar suporte ao enfrentamento das dificuldades impostas às pessoas e às empresas neste momento crítico da história brasileira”.

Também em nota, o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Aguinaldo Diniz Filho, afirma que três fatores justificam a nova redução: “o fraco desempenho da atividade econômica brasileira, a inflação doméstica baixa e a onda deflacionária global. Desde julho de 2019, o BC reduz continuamente a Selic, porém, nos dois últimos cortes ocorridos em fevereiro e março deste ano, a expansão monetária não foi sentida pelo mercado”.

Aguinaldo Diniz Filho também pondera que “a não ampliação do mercado creditício dificulta a captação de recursos financeiros pelas empresas, que neste contexto de crise econômica e de isolamento social registram uma redução drástica de faturamento. Este arrefecimento das receitas eleva a demanda por financiamento de capital de giro – recurso necessário para a manutenção das atividades das empresas e, principalmente, dos postos de trabalho”.

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